Acredite a maioria das pessoas que consome drogas, em geral, fazem por curiosidade e as utilizam uma vez ou outra. Muitas passam a usá-las de vez em quando, sem maiores conseqüências. Apenas um grupo menor passa a usar drogas de forma intensa, quase todos os dias ou diariamente, com conseqüências prejudiciais. Isso sim caracteriza que alguém se tornou dependente.
A dependência é o impulso que leva a pessoa a usar uma droga sempre ou frequentemente para obter prazer ou aliviar, tensões, ansiedades, medos e sensações físicas desagradáveis e etc.
O dependente não consegue controlar o consumo de drogas, agindo de forma impulsiva e repetitiva, tendo assim dificuldade de largá-las por dois motivos.
O organismo se acostumou com a substancia e sua ausência provoca sintomas físicos, a chamada síndrome da abstinência, isto por que a pessoa se acostumou a viver sob os efeitos da droga isso marca os dois tipos de dependência a física e a psicológica.
ADCÇÃO
A uma primeira questão sobre o que é um adicto, normalmente é uma pessoa que tem comportamentos compulsivos que o levam a consumir substâncias psicotrópicas, nomeadamente álcool e drogas, apesar dos efeitos negativos que isso tem na vida dessas pessoas.
Além das adicções referidas, há outras que podemos citar e que encontramos no nosso dia a dia, com exemplo, chocolate, as compras, o jogo, o sexo entre várias outras. Devemos levar em consideração o exemplo do sexo como adicção, apesar de ser uma patologia a sociedade acha graça em seu comportamento e não o considera como doente, isso é um estimulo para a pessoa manter o padrão estabelecido, o que pode ter sérias conseqüências.
Para a adicção não existe cura. O dependente consegue apoio por meio de terapias, psicólogos e psiquiatras que podem acompanhar o dependente, além disso existem grupos de ajuda como por exemplo Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos e Devedores Anônimos (Brasil).
Podemos exemplificar uma característica dos portugueses a adicção por café. Há muitos portugueses adictos ao café, eles costumam beber “bicas” e não funcionam adequadamente sem consumir a substancia. Ficam com dificuldades de concentração e dores de cabeça, quem bebe sete doses de café por dia pode não ser adicto o que caracteriza é a compulsividade de consumir.
Quando falamos de vícios, estamos dando uma conotação moral um vicio é um ato negativo e a doença é uma capacidade involuntária.
Ninguém é doente por que deseja, o adicto não tem escolhas sobre a adicção, tal como o diabético não tem diabetes por que quer também o adicto não é adicto por escolha.
A adicção é uma doença biopsicosocial, além da desintoxicação é preciso que o dependente mude suas atitudes e comportamentos, caso contrário a recaída é certa.
DEPENDENCIAS FÍSICAS E PSICOLÓGICAS
A dependência física se caracteriza pela presença de sintomas e sinais físicos que aparecem quando a pessoa para de consumir a droga e diminui bruscamente o seu uso.
Isso é “síndrome da abstinência”.
Esses sinais e sintomas dependem do tipo de substancia utilizado e aparecem algumas horas ou dias depois de ela ser consumida pela ultima vez. No caso dos dependentes de álcool, por exemplo, a abstinência pode causa desde um simples tremor nas mãos a náuseas, vômitos e nos casos mais graves delírio com o risco de morte.
Já denpendencia psicológica corresponde a um estado de mal estar e desconforto que surge quando o dependente interrompe o uso de uma droga. Os sintomas mais comuns são ansiedade, sensação de vazio, e dificuldade de concentração podendo variar de pessoa para pessoa.
Com os medicamentos existentes atualmente a maioria dos casos relacionados a dependência física podem ser tratados. Por outro lado o que quase sempre faz com que uma pessoa volt a usar drogas e a dependência psicológica, de difícil tratamento e que não pode ser resolvida de forma relativamente rápida e simples como a dependência física.
Mas com a terapia correta e muita força de vontade todos os dependentes podem um dia dar a volta por cima.
Dráuzio Varella – Que mecanismo do corpo humano explica o processo de dependência da droga?
Ronaldo Laranjeira – Acho importante destacar que existe, no cérebro, uma área responsável pelo prazer. O prazer, que sentimos ao comer, fazer sexo ou ao expor o corpo ao calor do sol, é integrado numa área cerebral chamada sistema de recompensa. Esse sistema foi relevante para a sobrevivência da espécie. Quando os animais sentiam prazer na atividade sexual, a tendência era repeti-la. Estar abrigado do frio não só dava prazer, mas também protegia a espécie. Desse modo, evolutivamente, criamos essa área de recompensa e é nela que a ação química de diversas drogas interfere. Apesar de cada uma possuir mecanismo de ação e efeitos diferentes, a proposta final é a mesma, não importa se tenha vindo do cigarro, álcool, maconha, cocaína ou heroína. Por isso, só produzem dependência as drogas que de algum modo atuam nessa área. O LSD, por exemplo, embora tenha uma ação perturbadora no sistema nervoso central e altere a forma como a pessoa vê, ouve e sente, não dá prazer e, portanto, não cria dependência.
Vários são os motivos que levam à dependência química, mas o final é sempre o mesmo. De alguma maneira, as drogas pervertem o sistema de recompensa. A pessoa passa a dar-lhes preferência quase absoluta, mesmo que isso atrapalhe todo o resto em sua vida. Para quem está de fora fica difícil entender por que o usuário de cocaína ou de crack, com a saúde deteriorada, não abandona a droga. Tal comportamento reflete uma disfunção do cérebro. A atenção do dependente se volta para o prazer imediato propiciado pelo uso da droga, fazendo com que percam significado todas as outras fontes de prazer.
Drauzio – A paranoia é um efeito terrível da cocaína. O indivíduo cheira e entra numa crise persecutória alucinante. O que leva alguém a usar uma droga sabendo que irá provocar uma sensação medonha, que nenhum prazer oferece?
Ronaldo Laranjeira – Essa é a essência da dependência química de uma droga. Primeiro aparece o efeito prazeroso e, depois, o desprazer. Com a cocaína, isso é mais intenso. Seu efeito de excitação e de prazer é imediato, ocorre em poucos segundos. Alguns minutos depois, desaparece e surgem os efeitos desagradáveis. Confrontando os dois, prevalece a lembrança dos bons momentos e a pessoa volta a usar a droga. Tive um paciente que injetava cocaína. Suas veias tinham sumido, mas mesmo assim ele não desistia. Expunha-se ao tormento de dezenas de picadas para obter um único resultado positivo que, em sua balança emocional, compensava o sofrimento anterior. Os fumantes têm comportamento parecido. Muitos, mesmo com traqueostomia, não deixam de fumar.
Drauzio – Muitos usuários garantem que a maconha é uma droga fácil de largar, que não causa dependência. Isso é verdade?
Ronaldo Laranjeira – Cada droga tem um perfil de dependência; a maconha não é muito diferente das demais. Como já foi dito, atualmente ela está dez vezes mais forte do que era há 30 anos. Por isso, não é tão fácil afastar-se dela, principalmente se a pessoa começou a fumar na adolescência, quando ainda era um ser em formação.
O acompanhamento de usuários de maconha, no ambulatório da Escola Paulista de Medicina, sugere exatamente o contrário. As pessoas conseguem suspender o uso da droga durante alguns dias, mas a vontade fica incontrolável e elas voltam a fumar os baseados.
Drauzio – No Carandiru, examino rapazes com tuberculose que fumam cigarros de nicotina, de maconha e crack. Explico-lhes que eles não podem fumar de jeito nenhum, porque seus pulmões estão doentes, muito inflamados. Na semana seguinte, eles me informam que conseguiram suspender o crack e a maconha, mas o cigarro está difícil. Isso se repete nas semanas subsequentes. Tive centenas de casos como esse, que me convenceram de que o cigarro é mais difícil de largar do que as outras drogas. Estou exagerando?
Ronaldo Laranjeira – Embora o efeito da nicotina não seja tão poderoso quanto o da maconha, é muito mais constante. Imaginemos que o fumante dê dez tragadas em cada cigarro e fume vinte cigarros por dia. Feitas as contas, num único dia seu cérebro recebeu um reforço positivo pelo menos duzentas vezes. Cada tragada é igual a uma injeção de nicotina na veia. Esse estímulo, repetido através dos anos, faz com que a dependência de nicotina seja mais poderosa do que as outras. A maconha, no momento, passa por processo semelhante. Mais disponível e mais barata, seu consumo aumentou e, consequentemente, o número de cigarros fumados por dia e os estímulos cerebrais que provocam aumentaram também. Portanto, em termos de dependência, as duas drogas não diferem muito. Pelo atual padrão de consumo, mais fácil, accessível e intenso, maconha e nicotina têm muito em comum. Por isso, não compartilho a idéia de que maconha seja uma droga leve.
Drauzio – O usuário de cocaína diz que deixará de usar a droga quando quiser. No entanto, admite que não poderá vê-la, porque entrará em desespero e a vontade de consumi-la fica incontrolável. Como se pode explicar esse fenômeno?
Ronaldo Laranjeira – Ficar longe da droga, quando se está disposto a abandoná-la, faz parte do processo de aprendizado. No exato instante em que a pessoa vê a cocaína, seu cérebro começa a preparar-se para recebê-la e dispara um mecanismo que chamamos de craving ou fissura. Isso vale para qualquer droga. Depois que ficou dependente, é quase impossível alguém ver a droga e resistir ao desejo de usá-la. Por isso, na fase inicial do tratamento, aconselha-se que se afaste completamente de todos esses estímulos, pois ficará menos difícil lidar com o fenômeno da dependência química.
Drauzio – A maioria das pessoas bebe com moderação, mas algumas fazem uso abusivo do álcool. Há quem fume maconha ou use cocaína esporadicamente, mas existem os que fumam crack o dia inteiro. O que explica essa diferença? A resposta está na droga ou no usuário?
Ronaldo Laranjeira – Parte da resposta está na tendência ao uso crônico e na história de cada pessoa. Quando começou a usar? Como interpreta os sintomas da síndrome de abstinência? Além disso, o que vai fazer com que repita a experiência não é só a busca do prazer, mas a tentativa de evitar o desprazer que a ausência da droga produz.
A dependência é um processo de aprendizado. O fumante, por exemplo, pela manhã já manifesta sintomas da abstinência. Fica irritado e sua capacidade de concentração baixa. Ele fuma, o desconforto diminui. Vinte minutos depois, o nível de nicotina no cérebro cai, voltam os sintomas da abstinência e ele vai aprendendo a usar a droga pelo efeito agradável que proporciona e para evitar o desprazer que sua falta produz. A dependência é fruto, então, do mecanismo psicológico que a um só tempo induz o indivíduo a buscar o prazer e evitar o desprazer e das alterações cerebrais que a droga provoca. Essa interação entre aspectos psicológicos e efeito farmacológico vai determinar o perfil dos sintomas de abstinência de cada pessoa. A compulsão é menor naquelas que toleram a abstinência um pouco mais, e maior nas que a inquietação é intensa diante do menor sinal da síndrome de abstinência. Resumindo: a dependência química pressupõe o mecanismo psicológico de buscar a droga e a necessidade biológica que se criou no organismo. Disso resulta a diversidade de comportamentos dos usuários.
A maconha é um bom exemplo. Seu uso compulsivo hoje é maior do que era há 20, 30 anos e, de acordo com as evidências, quanto mais cedo o indivíduo começa a usá-la, maior é a possibilidade de tornar-se dependente. Como garotos de 12, 13 anos, e às vezes até mais novos, estão usando maconha, atualmente o problema se agrava. Além disso, as concentrações de THC (princípio ativo da maconha) aumentaram muito nos últimos tempos. Na década de 1960, andavam por volta de 0,5% e agora alcançam 5%. Portanto, a maconha de hoje é 10 vezes mais potente do que era naquela época.
Diante disso, a Escola Paulista de Medicina sentiu a necessidade de montar um ambulatório só para atender os usuários de maconha e há uma lista de espera composta por adolescentes e jovens adultos desmotivados, que fumam 6, 7 baseados por dia e não conseguem fazer outra coisa na vida. Isso não acontecia quando a concentração de TSH era mais fraca e o acesso à droga mais restrito.
Drauzio - Quando se conversa com usuários de maconha de muitos anos, eles lastimam que a droga tenha perdido a qualidade. Sua explicação prova exatamente o contrário.Terão essas pessoas desenvolvido um grau de tolerância maior à droga?
Ronaldo Laranjeira - Acho que a queixa é fruto de um certo saudosismo, uma vez que há tipos de maconha, entre eles o skank, que chegam a ter 20% de THC. Na Holanda, foram desenvolvidas cepas que contêm maior concentração desse princípio ativo, o que faz com que a maconha perca a classificação de droga leve e se transforme numa substância poderosa para causar dependência. Deve-se considerar , ainda, como justificativa da queixa que o uso crônico causa sempre certa tolerância.
Drauzio - No Carandiru, minha experiência mostra que há quem fume um baseado a cada 30 minutos. Uma droga que exija tal freqüência de consumo não pode ser considerada leve, não é verdade?
Ronaldo Laranjeira – Infelizmente não existem drogas leves, se produzirem estímulo no sistema de recompensa cerebral. Em geral, as pessoas perguntam: mas se a droga dá prazer, qual é o problema? O problema é que ela não mexe apenas na área do prazer. Mexe também em outras áreas e o cérebro fica alterado. Diante de uma fonte artificial de prazer, ele reage de modo impróprio. Se existe a possibilidade de prazer imediato, por que investir em outro que demande maior esforço e empenho? A droga perverte o repertório de busca de prazer e empobrece a pessoa. Comer, conversar, estabelecer relacionamentos afetivos, trabalhar são fontes de prazer que valorizamos, mas não são imediatas.
Drauzio – O uso crônico do álcool provoca uma série de alterações que todo mundo conhece e reconhece. Em relação às outras drogas, de acordo com sua experiência pessoal e não com as definições dos livros, quais as principais características do usuário?
Ronaldo Laranjeira – No ambulatório da Escola Paulista de Medicina que atende usuários de maconha, pude notar que há dois grupos distintos. Um é constituído por jovens que perderam o interesse por tudo o que faziam. Não estudam nem trabalham. Estão completamente desmotivados. É o que chamamos de síndrome amotivacional. O nome é feio, mas pertinente. O outro grupo é formado por pessoas nas quais se estabelece uma relação complexa entre maconha e doenças mentais como psicose e depressão. Não se sabe se a maconha produz a doença mental. O que se sabe é que ela piora os sintomas de qualquer uma delas, seja ansiedade ou esquizofrenia.
Drauzio -Teoricamente, quando a pessoa ansiosa fuma maconha, fica mais relaxada. Você acha que isso é um mito?
Ronaldo Laranjeira – É importante distinguir, na droga, o efeito imediato do efeito cumulativo. No geral, sob a ação da maconha, a pessoa ansiosa relaxa um pouco, mas esse é um efeito de curto prazo. O álcool também relaxa num primeiro momento. No entanto, as evidências demonstram que nas pessoas ansiosas seu uso crônico aumenta os níveis de ansiedade, porque o cérebro reage tentando manter o sistema em equilíbrio. É o efeito de homeóstase. Se alguém usa um estimulante, passado o efeito, o cérebro não volta ao funcionamento normal imediatamente. Surge o efeito rebote. Isso ocorre com qualquer droga. Tanto com a maconha quanto com o álcool, findo o efeito depressor, o efeito rebote elevará os níveis de ansiedade.
Drauzio – Como age a maconha na memória?
Ronaldo Laranjeira - A maconha diminui a concentração, a memória e a atenção. É um efeito bastante rápido. Estudos mostram que, se alguém usar maconha num dia e medir os níveis de memória e concentração no outro, eles estarão ligeiramente alterados. Isso tem um impacto bastante negativo na vida dos adolescentes.
Na verdade, não há droga que melhore o desempenho intelectual. Nós sabemos que pessoas criativas usam drogas e produzem coisas criativas. Se elas não fossem criativas por natureza, não haveria droga no mundo capaz de produzir esse resultado.
Drauzio – Quais são os efeitos crônicos da cocaína?
Ronaldo Laranjeira – Em relação à saúde, o efeito mais grave da cocaína são os problemas cardíacos e cardiovasculares. Quando associada ao álcool, então, ela é uma das principais causas de infarto do miocárdio em adultos jovens.
Informações retiras do site www.drauziovarella.com.br